As palavras perda e ACM não rimam, não combinam, mal dialogam. Hoje a Bahia veste o seu luto e, embora haja um misto de alegria e alívio para os que não o admiravam nem suportavam ou toleravam, é inegável que esta foi, sim, uma morte significativa. O atual governador da Bahia, eleito neste final de mandato e de vida de ACM num prenúncio de que o ‘império’ e a hegemonia dele, ACM, chegavam ao fim, assim como sua vida, disse que haverá uma página na História da Bahia para tratar de ACM. Wagner foi modesto e econômico: uma página é pouco. Nos meus poucos anos de vida, pude politicamente perceber os efeitos do carlismo no meu estado e posso assegurar que ACM não é uma página apenas da história da Bahia, mas um livro inteiro, talvez mais de um volume.
Quando paro para pensar no que eu faria, sabendo que só me restaria mais um dia na condição de uma reles mortal, penso que, primeiramente, seria impossível. São muitas coisas. Muitos sonhos, vontades e curiosidades para experimentar. Mas, posso tentar fazer uma prévia das minhas prioridades.
Primeiramente, uma grande parte deste precioso dia seria destinada a ficar ao lado do homem que eu amo e fazendo amor como jamais pensei que seria possível, pois, nas minhas últimas 24 horas, milagres aconteceriam. Escolheria o lugar mais alto e lindo que houvesse no mundo, com o céu mais azul e cheio de pequenas nuvens, um sol radiante e nada escaldante, as mais rosadas flores, e lindas borboletas amarelas voando. Ah, também não posso esquecer dos beija-flores com barrigas azul-marinho ou “cor-de-burro-quando-foge”! Assim como nos desenhos da Disney. Também aproveitaria para dizer tudo o que jamais seria possível em um só dia, diria tudo – exatamente tudo – o que tenho para falar, das coisas mais lindas e puras às mais vergonhosas e infames!
Além de todo este irresistível cenário de amor, eu satisfaria todas as minhas vontades ridículas e infantis, como comer 50 chocolates ao leite com recheio de caramelo, e fazer todas as minhas refeições no fast-food do shopping, com o máximo de gordura saturada e suculenta possível, por favor. Com absoluta certeza faria uma total lipo-escultura e colocaria silicone nos seios. Roubaria uma Ferrari vermelha conversível e dirigiria enlouquecidamente pela Linha Verde enrolada numa toalha de banho branca e usando um chapeuzinho de palha chiquérrimo. Na cara, um óculos escuro enorme super fashion e um batom vermelho. Assim como o que Marisa Monte usa; acertaria as contas com todas as infelizes criaturas que menos suporto no mundo quebrando um dente de cada uma, os frontais – claro; abriria todas as gaiolas que prendem belos pássaros, inclusive as da minha casa; daria caviar aos meus cachorros, só pelo simples prazer de vê-los comendo o que outros tipos de cachorros acham chique; diria EU TE AMO zilhões de vezes aos meus pais e irmãos, e agradeceria todo o amor que minha avó sempre me deu.
No fim do dia, reuniria meus amigos mais importantes e faria a festa que eu sempre quis, com tequileiros, boate “bombando”, balões em preto e branco, telão com fotos das passagens mais importantes da minha vida e artistas que brincam com fogo. Também beberia os melhores e mais variados drinques até não poder mais. Depois de um delicioso banho de espuma, compraria a maior cama do mundo só para poder adormecer ao lado das pessoas que hoje mais importam na minha vida, e, todos abraçadinhos, esperaríamos pelo fim do mundo.